sábado, 27 de junho de 2020
sexta-feira, 19 de junho de 2020
Arte, Racismo e Serviço Social
Arte,
Racismo e Serviço Social
Prof.
Dr. Daniel Péricles Arruda (Vulgo Elemento)
Texto
apresentado, em 16/06/20, no Ciclo de Lives do Serviço Social, realizado pela
Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Há discussões tão
complexas que só consigo fazê-las por meio da arte. Por isso, gostaria de
apresentar-lhes um texto reflexivo para que possamos dialogar sobre arte,
racismo e Serviço Social...
O que é arte? O que há
dentro desse guarda-chuva? Trata-se de uma palavra pequena que contém coisas
grandes. Arte é conhecimento. É caminho de passagem para outros saberes. Arte é
linguagem, produz linguagens. É mediação entre o sujeito e a cultura. É caminho
de acesso ao mundo interior. É um modo de fugir da realidade, mas também de
encontrá-la. Arte é muitas coisas. Arte não é tudo e nem tudo pode e consegue ser
arte, pois chamar de arte uma escultura, ou monumento, que representa o colonizador,
é continuar violentando simbolicamente os africanos e todas as suas gerações,
como a minha... E, digo mais, manter erguida a estátua do colonizador é parabenizá-lo
eternamente por seu malfeito.
Estão vendo como falar
de arte é difícil... Por isso, prefiro a arte que toca, que desperta a
humanidade para a diversidade...
A arte tem condição de
ser um instrumento sensível para adentrar ideologias racistas e, como cupim,
iniciar uma revolução por dentro... A arte pode nos revelar o nosso
inconsciente... A arte toca na subjetividade e produz várias outras...
A música, a poesia, a
dança, o teatro, a pintura, enfim, falo de arte sem censura, todas podem ser
utilizadas para despertar ou agregar valor ao sujeito, servir de espelho, para
romper invisibilidades e ressignificar marcas da discriminação racial... Essas
são algumas pistas para falar sobre o racismo...
Certamente, vocês já
escutaram ou leram essa frase em algum lugar: “Ninguém nasce racista”. Porém,
nosso país é referência em formar sujeitos racistas... São questões
importantes: Como se dá a formação do sujeito racista? Por que existe o
racismo?
O racismo desenvolve-se
de muitas maneiras. Age como vírus. É cruel. Machuca. Fere. Perturba. Mata.
Manifesta-se nos
discursos, em pequenas palavras, nos atos falhos, nos chistes, nos gestos...
Ora é cordial, cínico, ostensivo, irônico, recreativo, e na essência é
estrutural, como expresso em um dos meus versos:
“Porque o racismo é estruturalmente estrutural”.
“Temos que ocupar todos os lugares...
Vamos unir forças...
Vamos estudar e transformar a história...
Vamos nos manifestar, exigir e argumentar...
Mesmo sabendo que nenhum/a negro/a está imune aos efeitos do racismo,
que é estruturalmente estrutural...
Mesmo que tenha diploma, mesmo que more em área nobre, mesmo que fale inglês, árabe, francês...
O racismo sempre dá um jeitinho para nos alcançar... É só olhar direitinho...
E essa talvez seja uma de suas estratégias de atuação:
Mesmo que tenha diploma, mesmo que more em área nobre, mesmo que fale inglês, árabe, francês...
O racismo sempre dá um jeitinho para nos alcançar... É só olhar direitinho...
E essa talvez seja uma de suas estratégias de atuação:
‘Mesmo que te escondas, eu te encontro.’”
O racismo é estruturalmente
estrutural porque vem desde a raiz. O racismo nos ataca, seja com tiros ou com
palavras, seja em direitos que nos são negados, tirados, fragilizados. O
racismo é tão perverso que o sujeito que o sofre é visto como culpado. Talvez
seja por isso que muitos se silenciam. Para não sofrer duas vezes.
Quem nunca ouviu algo
do tipo, ao relatar que sofreu racismo: “Amiga,
será?”; “Isso é coisa da sua cabeça!”; “Ai, mas tudo pra você é racismo!”; “Era
só uma brincadeira!”; “Ela não é racista. É o jeito dela!”; “Não, ele jamais
faria isso. Ele é casado com uma mulher negra!”; “Você tem que se tratar,
amigo. Você está com mania de perseguição”.
Aqui, façamos de conta
que o sujeito, ao ser desacreditado de sua narrativa, desesperado, resolva
procurar ajuda profissional, e o profissional repete de um modo
profissionalizado o mesmo discurso dos amigos.
Percebam como é difícil
provar que o racismo existe, mesmo acontecendo de maneira escancarada.
A palavra é a prova. Se
temos que provar a prova, quer dizer que temos um enorme problema a ser
resolvido...
O racismo não é culpa
do sujeito negro. O racismo revela o outro, que não aceita conviver com o
diferente. Mas há contradições. Não dá para analisar essa questão ligando um
ponto ao outro...
Parei outro dia para
distrair, liguei a televisão, mas como é possível se distrair no inferno?
- Adolescente
é morto dentro de casa com tiro de fuzil no Rio de Janeiro... (João Pedro);
- Criança
de 5 anos morre após cair do 9o andar de prédio no centro do
Recife (Miguel);
- Morte
de homem negro filmado com policial branco ajoelhado em seu pescoço causa
indignação (George Floyd).
Do que essas mortes nos
falam? Falam que o sujeito negro é altamente descartável. Demonstram que é
preciso verificar realmente se a escravização acabou ou se aperfeiçoou,
principalmente no Brasil, lugar que ainda se diz: criado mudo, mulata, inveja branca. Essa vocês conhecem: Denegrir! Porque não falam debranquir?
Enfim, um país em que
há leis contra o racismo, mas que ninguém é seriamente responsabilizado, que não
assume ou não quer reconhecer os impactos do racismo no desenvolvimento
psíquico do sujeito...
Agora, lembro-me das
mães que já atendi e que relatavam ter medo de seus filhos saírem nas ruas,
principalmente à noite...
Se você é mãe de filho
preto, me ouça: A sua preocupação faz sentido. É o medo de perder o filho, pelo
cano, pela pólvora, pelo tiro... O seu sentimento é legítimo... Por isso, é
importante o diálogo, a escuta, a troca entre grupos de mães... São trilhas...
Percebo que esses são
alguns elementos importantes para tratar do racismo e da arte, em nossa
sociedade, bem como para tratá-los no núcleo e não nas periferias das profissões,
para que possamos vê-los de modo plural e aprofundado nas disciplinas, nos projetos
de extensão, na proposição de caminhos metodológicos para a construção e
interação do conhecimento, na intervenção e supervisão profissional e no
cuidado de si. Para isso, enfatizo que a arte é importante para provocar a
mudança interior, aquela que se externaliza na cotidianidade, ou seja, a arte
como modo de escuta e acolhimento do sujeito na perspectiva da educação para as
relações étnico-raciais...
quarta-feira, 17 de junho de 2020
terça-feira, 16 de junho de 2020
Live - Arte, Racismo e Serviço Social (UEM)
Live - Arte, Racismo e Serviço Social - Universidade Estadual de Maringá (UEL).
segunda-feira, 15 de junho de 2020
Não podemos parar de sonhar - Vulgo Elemento
Não
podemos parar de sonhar
O mundo já não é mais o mesmo...
A pandemia tem mexido com as estruturas sociais,
econômicas, culturais, artísticas e psíquicas... Mexido com o planeta...
A situação não é fácil...
Porém, humildemente, gostaríamos de dizer uma
coisa...
Não podemos parar de sonhar... E nem abandonar os
nossos sonhos...
O sonho é importante para alimentar a vida...
O sonho nos coloca em outra dimensão, assim, é
possível enxergar diferente...
O sonho é o nosso político interno, que se
externaliza nos discursos... Em nossas palavras... Assim, talvez, seja possível
lidar com nossos desejos e nossas angústias...
É importante tomar esses sonhos como linguagem, como desejos falseados de múltiplas expressões a serem
interpretadas.
Sonhos diurnos e sonhos noturnos...
Sonhamos e, às vezes, nem percebemos. E, quando
percebemos, o que fazemos?
Eis a questão.
Há também outro sentido para o sonho... Entendido
como objetivo, que traçamos ao longo da vida, como meta, ponto de chegada...
Mas, para muitos, essa vida é uma ribanceira, um zigue-zague... Nem sempre dá para chegar a algum lugar em razão da desigualdade,
da opressão e do abandono...
Daí a importância de sonhar, pois quando sonhamos,
independentemente da forma, estamos lutando para existir...
E o nosso desejo é existir em coletividade, com vocês,
e com todos que desejam um mundo melhor.
Vocês estão com a gente?
(Vulgo Elemento)
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Texto
apresentado no Encontro de Supervisores/as de Estágio do curso de Serviço
Social da UNIFESP, campus Baixada Santista.
quarta-feira, 10 de junho de 2020
sábado, 6 de junho de 2020
Saquinho de Pipoca
Saquinho de pipoca
Perdeu, perdeu, perdeu...
Perdeu a capacidade de me ver como gente.
Se é que um dia teve.
Tô tranquilo... Tô limpo... Tô de boa, Zé!
Iiih... Não tô fazendo nada não, Tio.
E mesmo se estivesse. Não sabe conversar, não?
Calma, aê! Por que você me olha assim?
Só de olhar pra mim já sente medo...
Atravessa a rua, faz o sinal da cruz. E se eu
fosse Jesus?
Vai, chama os zomi, então.
Chegaram:
- “Perdeu, ladrão. Cadê a arma?”
Não tenho arma não, senhô!
- “E o que é isso aí, nas mãos?”
É apenas meu saquinho de pipoca... Posso abrir,
senhô?
(Vulgo Elemento)
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Poesia inspirada no artigo Pedagogia da Crueldade: racismo e extermínio da juventude negra, de Nilma Lino Gomes e Ana Amélia de Paula Laborne, de 2018.
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Poesia inspirada no artigo Pedagogia da Crueldade: racismo e extermínio da juventude negra, de Nilma Lino Gomes e Ana Amélia de Paula Laborne, de 2018.
quarta-feira, 3 de junho de 2020
terça-feira, 2 de junho de 2020
Porque o racismo é estruturalmente estrutural
𝐏𝐨𝐫𝐪𝐮𝐞 𝐨 𝐫𝐚𝐜𝐢𝐬𝐦𝐨 é 𝐞𝐬𝐭𝐫𝐮𝐭𝐮𝐫𝐚𝐥𝐦𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐞𝐬𝐭𝐫𝐮𝐭𝐮𝐫𝐚𝐥
Temos que ocupar todos os lugares...
Vamos unir forças...
Vamos estudar e transformar a história...
Vamos nos manifestar, exigir e argumentar...
Mesmo sabendo que nenhum/a negro/a está imune aos efeitos do racismo, que é estruturalmente estrutural...
Mesmo que tenha diploma, mesmo que more em área nobre, mesmo que fale inglês, árabe, francês...
O racismo sempre dá um jeitinho para nos alcançar... É só olhar direitinho...
E essa talvez seja uma de suas estratégias de atuação:
“Mesmo que te escondas, eu te encontro”.
(Vulgo Elemento)
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