sábado, 6 de junho de 2020

Saquinho de Pipoca


Saquinho de pipoca 

Perdeu, perdeu, perdeu...

Perdeu a capacidade de me ver como gente.
Se é que um dia teve.

Tô tranquilo... Tô limpo... Tô de boa, Zé!

Iiih... Não tô fazendo nada não, Tio.
E mesmo se estivesse. Não sabe conversar, não?

Calma, aê! Por que você me olha assim?
Só de olhar pra mim já sente medo...

Atravessa a rua, faz o sinal da cruz. E se eu fosse Jesus?
Vai, chama os zomi, então.

Chegaram:

- “Perdeu, ladrão. Cadê a arma?”

Não tenho arma não, senhô!

- “E o que é isso aí, nas mãos?”

É apenas meu saquinho de pipoca... Posso abrir, senhô?


(Vulgo Elemento)

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Poesia inspirada no artigo Pedagogia da Crueldade: racismo e extermínio da juventude negra, de Nilma Lino Gomes e Ana Amélia de Paula Laborne, de 2018.

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